Um caminho para o retorno ao equilíbrio, dentro do processo terapêutico, passa pelo reconhecimento, sustentação, ressignificação e integração do que chamamos de sintomas. A harmonia ocorre quando conseguimos integrar a virtude oposta àquela que, em determinado momento, está fora do alcance da consciência — uma compreensão possibilitada pela psicoterapia e pela terapia floral.
Ao percebermos que algo não vai bem, seja no campo psíquico ou físico, entramos em um processo de cuidado que envolve tempo, atenção e disposição para lidar com o desconforto. Esse sustentar é parte fundamental do caminho de volta ao estado de saúde, que só se estabelece quando as questões ligadas ao desequilíbrio são ressignificadas e integradas.
Para algumas pessoas, a ideia de sustentar a angústia, o problema ou o desequilíbrio pode soar estranha ou até inadequada. No entanto, consciente ou não, é justamente isso que ocorre no processo de cura. No contexto da terapia com florais, percebo que essa resistência pode ser ainda maior — especialmente quando se fala em sustentar a dor, o medo ou a angústia. Uma possível explicação para esse desconforto é a forma como, no senso comum, compreendemos os conceitos ligados às essências florais.
De modo geral, os conceitos dos florais enfatizam muito o campo positivo — as virtudes que cada essência favorece. Alguns textos, inclusive, apresentam essas virtudes com um tom quase mágico, sugerindo um ideal de elevação espiritual muitas vezes inalcançável dentro da experiência humana concreta. É nesse ponto que se tornam necessárias outras reflexões para que possamos compreender, com mais profundidade, o que esses textos podem transmitir numa linguagem e entendimento mais contemporâneo.
Em primeiro lugar, os florais expressam, em seus conceitos, recortes específicos de sentimentos, emoções e comportamentos. Cada essência aborda certos aspectos dentro da imensidão da alma humana — são fragmentos, e não uma representação da totalidade do que somos ou sentimos. Por isso, ao ler sobre um floral, é importante considerar qual campo ele se propõe a trabalhar, mesmo reconhecendo sua abrangência.
Em segundo lugar, acredito que, ao formularem o conceito de uma essência floral, alguns produtores optam por destacar seu aspecto positivo, mesmo quando ela atua sobre padrões negativos. Isso porque o retorno à harmonia e à saúde se dá justamente pelas qualidades saudáveis evocadas pela essência e pelos núcleos íntegros da psique.
Em terceiro lugar, os florais não contêm, em seus conceitos, tanto os padrões negativos quanto os positivos? Isso reflete a própria dinâmica da natureza, em que tudo possui um oposto complementar — condição essencial para a realização da unidade.
As polaridades, ao manterem a tensão entre si, geram impulso e energia. É essa energia que permite o movimento, o desenvolvimento, a ação e a transição contínua entre estados negativos e positivos. Essa alternância até determinado ponto, é o que possibilita a vida e a saúde: a integração por meio da oscilação das virtudes, entre o excesso e a falta.
Ao reconhecer o que está em desequilíbrio e sustentar esse estado pelo tempo necessário — tratando de forma adequada, já que nenhum processo é instantâneo — criamos a possibilidade de ressignificar a origem do sintoma. Isso permite reconhecer e assimilar seu oposto, favorecendo a reintegração daquilo que antes estava apartado da consciência.
Por isso, é necessário oscilar entre dias bons e ruins, entre o positivo e o negativo, entre tristeza e alegria, angústia e paz. A saúde está na integração, e não na idealização ou perfeição — tanto na terapia quanto no uso dos florais.
Conhece-te a ti mesmo (aforismo grego).
Cura-te a ti mesmo (Edward Bach).
Ana Roxo
E aí, qual é a imagem que você tem de si mesma? Como anda essa percepção? O que você tem imaginado para o futuro? E os likes nas imagens que você posta?
A imagem ocupa um espaço muito maior em nossas vidas do que costumamos supor.
Para os terapeutas florais, a importância da imagem também se manifesta nos próprios conceitos dos florais, especialmente no que chamamos de gestual da planta — compreendido por sua forma, crescimento e função, observados fundamentalmente pela aparência.
Mas, para a psique, o papel da imagem é ainda mais profundo:
"Outro ponto que estabelece uma relação entre as teorias junguianas e a prática com as essências florais é o vínculo dos indivíduos com as imagens.
Para Jung, as imagens não são apenas formas de retratar a realidade com base no que é captado e interpretado pelos sentidos; tampouco se reduzem a manifestações criativas da imaginação ou a representações das fantasias.
As imagens são expressões fundamentais da psique, que é criativa, produz seus próprios símbolos e possui um movimento autorregulador. Ao desenvolver o conceito de arquétipos, Jung se referiu às 'imagens primordiais', pois compreendia que elas expressam ideias de forma muito mais ampla do que as palavras conseguem alcançar. As palavras limitam e não são capazes de revelar por completo uma ideia. Apenas por meio de metáforas, poemas e figuras de linguagem — que, por definição, também envolvem imagens — é possível tocar aspectos mais profundos do significado."
No campo das essências florais, essa compreensão também se aplica. As imagens das plantas são parte fundamental da observação de seu gestual, revelando sua linguagem anímica. Parte dessa linguagem pode ser interpretada e representada racionalmente, mas outra parte só se revela através da simbologia de suas funções.
E, como todo símbolo, há sempre um conteúdo acessível à razão e outro que permanece inconsciente — como afirmou Jung ao definir o conceito de símbolo.
As imagens também são utilizadas como técnica de escolha dos florais na composição de uma fórmula. Alguns profissionais apresentam imagens das flores, e o cliente seleciona aquelas que despertam algum tipo de atração — seja pela beleza, exotismo, repulsa ou afinidade. Essa conexão emocional, estabelecida pela vivência com as imagens, pode revelar de forma mais rápida ou precisa a condição psíquica do indivíduo.
As essências florais, por sua natureza polar e complementar — expressa simbolicamente na forma e na função das plantas — dialogam com as emoções e catalisam, de modo simbólico, comportamentos semelhantes nos indivíduos. Com isso, promovem uma mudança no estado de humor, favorecendo o contato com recursos internos e incentivando uma auto-observação consciente.”
Ana Roxo – Enantiodromia e a Dinâmica dos Opostos para Jung e as Virtudes Opostas na Terapia Floral – Monografia – Especialização em Psicologia Junguiana – IJEP, Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa.
Os florais são remédios para a alma — e os antigos gregos chamavam a alma de psique. Desde então, esse termo também é utilizado pelas áreas da psicologia, psiquiatria e afins.
Assim como o corpo cresce e se desenvolve de forma involuntária, a psique também constrói suas estruturas em um processo próprio, intrínseco e paralelo ao desenvolvimento corporal.
Uma das estruturas desenvolvidas pela psique é a persona — as “máscaras” ou “uniformes” que nos permitem transitar por diferentes contextos sociais. Mais especificamente, quem desenvolve as personas é o ego, outra estrutura psíquica que será abordada em outro momento.
Voltando à persona: é provável que você já tenha percebido que adota certas características e comportamentos no ambiente de trabalho que diferem daqueles que manifesta entre amigos — e que, por sua vez, também se diferenciam dos que surgem em relacionamentos românticos, por exemplo. É sempre você, mas com diferentes performances adaptadas às "exigências" de cada situação. Essa capacidade de adequação é mediada pelas personas.
Na infância, a construção das personas é fortemente influenciada pelos pais, por códigos morais, culturais e sociais. Naturalmente, buscamos nos adaptar e corresponder a esses padrões. Com o tempo, no entanto, também é necessário nos desidentificarmos dessas referências e reconhecermos que não somos — e nem devemos ser — cópias fiéis das expectativas da família ou da sociedade. Somos indivíduos únicos, com uma organização e expressão próprias das nossas características.
As personas nos auxiliam na adaptação aos diversos meios sociais e continuam se modificando ao longo da vida — seja em novos trabalhos, relacionamentos, culturas ou fases de desenvolvimento, como a vida adulta, a maturidade e a velhice. Ou, pelo menos, deveriam continuar se ajustando, se estivermos falando de saúde psíquica. Quando isso não ocorre, é possível que surjam patologias — mas essa é uma outra conversa, para outro momento.
O objetivo desta breve reflexão sobre as personas é relacioná-las à importância do floral Walnut, do sistema de Bach. Sua principal atuação está justamente na capacidade de adaptação. Walnut nos ajuda a manter a fidelidade à nossa essência, mesmo enquanto nos adaptamos aos diferentes grupos e contextos. Ele sustenta a individualidade frente às influências externas e, em períodos de transição, favorece a flexibilidade interna necessária para lidar com as mudanças.
Como a persona tem, em sua base arquetípica, a função de adaptação, Walnut é um grande aliado — daqueles florais que, como costumo brincar, “deveriam estar em todas as fórmulas”.
Quer melhor adaptação? Pense em Walnut.
Quer saúde mental? Pense também em Terapia Floral.
Ana Roxo
A afirmação de que os florais auxiliam nos estados emocionais já não é uma questão para quem os utiliza. A imensa maioria dessas pessoas vivencia essa realidade de forma concreta.
Por muito tempo, no entanto, a ideia de que os florais curam ou “tiram” a dor emocional me causava certo incômodo. As plantas medicinais curam por meio de seus princípios ativos. Já os florais são substâncias inertes — não contêm princípio ativo. São portadores de uma informação da natureza e, por isso, não podem ser compreendidos sob a lógica da alopatia.
No meu entendimento, os florais funcionam como incentivadores de uma resposta emocional mais saudável diante das oscilações, conflitos e crises. Eles não retiram o indivíduo da dor ou da crise, mas favorecem um enfrentamento mais consciente, ao resgatar capacidades internas que estavam enfraquecidas ou fora do alcance da consciência. Aliviam o desconforto, mas, ao mesmo tempo, propõem o confronto e uma elaboração mais profunda das questões. É justamente por isso que os florais se tornam grandes aliados da terapia.
Ajudar o indivíduo a enfrentar a crise, abrindo espaço para novas percepções, é um caminho mais potente para lidar e, muitas vezes, superar conteúdos difíceis de serem integrados pela consciência — como os estados depressivos, por exemplo. Os florais não retiram alguém da crise, porque é justamente atravessá-la que possibilita a ressignificação. Por isso, a ideia de evitar a dor emocional por meio de drogas nem sempre é a melhor opção — embora, em certos casos, seja necessária e não deva ser descartada. Mas a superação, ou mesmo a transformação da dor, se dá justamente nesse processo de atravessamento. E é nesse ponto que os florais oferecem um suporte essencial.
Neste trecho, há uma bela reflexão sobre a importância das crises e da dor:
"(...) a depressão leva o sujeito necessariamente para baixo, para um aprofundamento em si mesmo. Diminui o ritmo, desacelera o intelecto, aproxima o horizonte. Talvez nada hoje em dia consiga para nós o que consegue a depressão, e por isso sua presença é tão marcante: esforços da farmacologia à parte, na depressão somos lançados irremediavelmente ao vale da alma."
A preocupação com a profundidade e a depressão também permite à psicologia arquetípica uma crítica à cultura, na medida em que "uma sociedade que não permite a seus indivíduos deprimir-se não pode encontrar sua profundidade e deve ficar permanentemente inflada, numa perturbação maníaca disfarçada de crescimento."
Esse trecho foi retirado da introdução escrita por Gustavo Barcellos para o livro Psicologia Arquetípica, de James Hillman, 1ª edição digital, 2022, Ed. Cultrix.
A imagem da flor corresponde à essência floral Black-Eyed Susan, do sistema californiano. Não recomendo o uso dessa essência fora de um processo terapêutico, devido à possibilidade de acesso a conteúdos mais densos — como o próprio repertório da essência salienta:
"(...) Esta essência nos ajuda a lançar luz sobre essas partes não assumidas ou reconhecidas de nós mesmos. Ela nos ajuda a olhar para nosso lado negativo, assim como para aquilo que também existe em nós, mas que tentamos negar. Suas qualidades iluminam e abraçam o todo, e nos ajudam a aprofundar o processo de conhecimento de nosso lado ‘sombra’.” — Repertório das Essências Florais da Califórnia
Ana Roxo
Alegria em dobro: ver as obras do Dr. Ricardo Orozco sendo publicadas no Brasil e ter tido a honra de escrever o prólogo da primeira delas em português.
Este é o primeiro livro traduzido para o português de uma série originalmente escrita em espanhol — e já disponível em italiano e francês — que, aos poucos, começa a chegar ao público brasileiro pelas mãos cuidadosas e competentes da tradutora Janaína Carvalho, Terapeuta Floral, Acupunturista e Terapeuta Transpessoal, a quem deixo aqui meu sincero agradecimento. Além do convite, é graças ao seu trabalho atento e minucioso que essas obras nos alcançam, após tantos anos de espera.
Agradeço também ao Dr. Ricardo Orozco por suas pesquisas, pelo amor dedicado aos florais e pela generosidade com que compartilhou suas experiências nos encontros que tivemos.
Conheci seu trabalho por meio da Terapeuta Floral Lucy Godoy e, desde então, seus livros tornaram-se uma valiosa fonte de pesquisa e aprofundamento na Terapia Floral. Tenho certeza de que o mesmo acontecerá com todos os profissionais que tiverem contato com sua obra.
Que todas(os) as(os) colegas aproveitem esta leitura e possam aprofundar ainda mais suas práticas — porque este, sem dúvida, é um momento muito especial.
Ana Roxo
Em um atendimento recente com uma astróloga querida, ela compartilhou preocupações específicas de seu mapa relacionadas ao ingresso do Sol em Câncer. Apesar de a astrologia ter sido meu primeiro amor, não atuo mais com ela há anos e raramente a trago para os atendimentos em Terapia Floral.
No entanto, por conta da natureza do trabalho dela, acabamos conversando sobre florais que se afinam com as características de alguns signos — no caso dela, o signo de Câncer. Como o tema ainda está fresco, compartilho aqui alguns exemplos.
Lembrando que os florais citados se relacionam com as características do signo “puro”, ou seja, em um campo teórico. Na prática, ninguém possui um signo isolado em seu mapa astrológico — todos somos atravessados pelos símbolos dos doze signos.
– Honeysuckle (Bach): no aspecto negativo, prende-se ao passado — tanto às alegrias quanto às dores — e dialoga bem com a natureza canceriana, marcada pelo apego às memórias, às raízes e pela nostalgia de tempos vividos. Essa associação vale para todas as variantes da Madressilva presentes em diferentes sistemas florais.
– Chicory (Bach) e Chicorium (Minas): representam bem características associadas à maternidade. São florais clássicos da carência e da manipulação emocional, que pode se manifestar por meio de um apego intenso, muitas vezes sufocante, aos que se ama. Como Câncer é um signo de água, e Chicory se relaciona a esse elemento, também pode expressar uma hipersensibilidade emocional.
– Red Chestnut (Bach) e Trimera (Minas): trabalham a preocupação excessiva com o bem-estar alheio. Pessoas com a Lua em posição proeminente no mapa, ou com uma forte presença do signo de Câncer — seja pelo Sol ou por múltiplos planetas nesse signo — tendem a experimentar essa preocupação com aqueles que amam. Afinal, maternar não é apenas um verbo qualquer dentro dessa configuração astrológica.
– Aspen e Mimulus, ambos do sistema Bach, ajudam a amenizar medos — sejam vagos ou conscientes — frequentemente presentes nesse signo tão sensível. Cancerianos, por sua natureza receptiva, podem “atravessar o campo” dos outros ou captar informações mais densas, o que gera uma sensação de vulnerabilidade.
Aspen contribui para conter esse estado mais poroso, como uma espécie de “esponja emocional”, enquanto Mimulus favorece um enfrentamento mais direto e corajoso dos medos reconhecíveis.
E, se estamos falando de Câncer, não dá para ignorar sua sombra: Capricórnio. Todo signo tem seu oposto complementar, que representa sua sombra. E só para não dizer que não falei dele — Capricórnio (meu queridinho… sou estranha, eu sei rs) — é um signo que também dialoga com o medo.
Mas, cá entre nós: qual signo não dialoga? E qual floral não toca, de alguma forma, essa emoção?
Fica para a próxima.
Ana Roxo
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